"(...) Na pequena sala de jantar ao lado, percebíamos o pai a andar de um lado para o outro. Não devia ter a sua atitude pronta ainda para a circunstância. Talvez esperasse que os acontecimentos se precisassem antes de ter de escolher uma postura. Permanecia numa espécie de limbo. Os seres vão de uma comédia para a outra. Entretanto, a peça não está montada, eles não discernem ainda os contornos, o seu papel propício, então permanecem ali, de braços bamboleantes, diante do acontecimento, os instintos virados como um guarda-chuva, sacudidos de incoerência, reduzidos a si mesmos, quer dizer, a nada. Bois sem palácio."
Admirável, esta cena do pai que não sabe como reagir ao aborto mal sucedido da filha a esvair-se em sangue, enquanto a mulher se preocupa apenas com a vergonha de a levar ao hospital!
Eu sei que Céline foi um mau cidadão e que professou ideias abomináveis que o levaram ao exílio e à exclusão.
Mas penso que no fundo essas ideias eram uma precaução, o veneno que protegia o seu ódio à mentira dos homens.
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