"Viagem a Tóquio" (1953-Yasujirô Ozu)
Com o mais belo dos sorrisos, Noriko, a jovem viúva, admite que a vida é triste porque os filhos têm de seguir o seu caminho.
Conforma-se com a ganância da cunhada que, no próprio velório, reclama para si os melhores quimonos e se queixa do trabalho que a espera.
Mas o velho pai, na manhã mesma em que perdeu a esposa, saúda o amanhecer e confronta Noriko com o seu fatalismo.
Tudo se passa num sussurro de interiores, interrompido, de vez em quando, pelo cantochão das cigarras e as vistas sobre a linha férrea, os telhados e o rio.
Este é o meu Ozu preferido. Sempre que o vejo sinto que a humanidade é uma só, para lá das fronteiras e das religiões. Mas que pudor, que sublimação sentimental!
O irmão mais novo já não chega a tempo de encontrar a mãe com vida. Fica de braços caídos diante da irmã que o recebe e lhe dá a notícia, e nenhum conforto físico, nenhum abraço, nenhum toque.
Dir-se-ia que a caligrafia se tornou a ética dos sentimentos.
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