Deleuze diz que o "Robinson Crusoé", de Daniel Defoe, não é apenas uma história, mas, como muitos já observaram, é também o "instrumento duma pesquisa: pesquisa que parte da ilha deserta, e que pretende reconstituir as origens e a ordem rigorosa dos trabalhos e das conquistas que dela decorrem com o tempo. Mas é claro que a pesquisa está duas vezes falseada. Por um lado, a imagem pressupõe aquilo que pretende engendrar (cf. tudo o que Robinson retirou dos destroços). Por outro lado, o mundo reproduzido a partir desta origem é o equivalente do mundo real, quer dizer económico, ou do mundo tal como seria, tal como deveria ser se não houvesse a sexualidade."
"Logique du sens" (Gilles Deleuze)
Na verdade, o exemplo de outros "naufragados", isolados durante muito tempo dos outros homens, faz do herói de Defoe o mito por excelência do "self-made man".
A ausência do fantástico e da sexualidade decerto impedem que o mundo de Robinson seja "real". Porque não existe a rede humana para sustentar as coisas. E o próprio indivíduo tende a deixar de se identificar com a sua espécie e a ser representativo dela, para se perder nos "elementos".
O económico funde-se, pois, no natural.
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