"Gide não se confronta consigo próprio, sucede a si mesmo."
(Jean Prévost)
O romancista do 'acto gratuito' não pertencia à linhagem de um Camus, por exemplo. Num mundo absurdo - e o mundo sem Deus pode ser declarado tal, segundo a lenda do Grande Inquisidor (Dostoiewski), o crime de Lafcadio, em "As caves do Vaticano", que empurrou para fora do comboio em andamento um desconhecido qualquer, não está justificado por nada e não faz qualquer sentido no mundo moral que herdámos do cristianismo. Todo o crime cairia, assim, sob a alçada da estética. Lafcadio não está longe de se considerar um artista, como o Brandon ("The Rope") de Hitchcock.
Temos todos obrigação de saber mais do que isso, porque o sentido decorre do mundo com os outros e há mais do que uma religião, mesmo sem clero, nem símbolos consagrados. O 'acto gratuito' não pode ser concebido 'sem pecado'.
A sentença de Prévost parece 'contaminada' com a 'imoralidade' das personagens de André Gide, estabelecendo uma passadeira fácil entre a obra e a vida do autor.
O escritor renasceria como a Fénix depois de cada 'experiência'. De queda em queda, sempre virginal e irresponsável. Gide poderia ser, então, o verdadeiro modelo das suas personagens. Ou, melhor, as suas personagens poderiam ser a fogueira dos seus 'renascimentos'.
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