sexta-feira, 9 de maio de 2014

BARDAMU E AS PULGAS


By: Giuliano Guarnieri

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"Ele coçava-se e só de o ver, vinha-me a mim também a vontade de me coçar. É que, pulgas tinhas eu, é verdade, apanhado sobre os doentes durante a noite. Elas saltam-vos para o sobretudo da melhor vontade porque é o lugar mais quente e mais húmido que se apresenta. Ensinam-vos isso na Faculdade."

"Voyage ao bout de la nuit" (Louis-Ferdinand Céline)


Estes pobres que largam as pulgas para o sobretudo do seu médico, não são os pobres do nosso João de Deus, nem os do Evangelho, nem seria preciso dizê-lo.

Não são também o povo da Revolução, nem o exército dos deserdados.

Todas essas ilusões ficaram pelo caminho percorrido por Bardamu.
Agora, é só a luta pela sobrevivência que envolve insectos e homens. É o Homo homini lupus.

Céline limpa a lousa. O seu programa é viver sem ilusões e isso não é possível aos homens.

A sua misantropia lúcida não é menos patética do que as ilusões da espécie.

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