sexta-feira, 19 de outubro de 2012

VOZ NO CAPÍTULO


Abbaye de Fontenay



"Deste modo, uma voz já não se faz ouvir, um homem deixa de falar, conta-se apenas o seu voto. Já não estamos mais no âmbito do acto de falar, estamos no da linguagem matemática. A uma democracia baseada na palavra como acto substituiu-se uma democracia baseada na contagem dos códigos (não sendo as sondagens mais do que tentativas desesperadas de conhecer o que os códigos querem dizer).


(Fr. Jean-Michel Potin)


O voto tornou-se tão abstracto que já nada tem a ver com o 'ter voz no capítulo'.  Todos percebemos que essa passagem nos foi imposta pelo funcionamento da democracia de massas.

A 'traição' dos eleitos está implícita no grau de abstracção do voto, em que se projectam ideias e sentimentos que não sobrevivem à revelação do 'artefacto' eleitoral com as primeiras acções de incidência política.

Alguns partidos, porém, protegem-se da decepção dos seus candidatos, por estes nunca serem confrontados com as consequências dos seus actos, na falta da oportunidade de exercerem qualquer cargo, ou porque, no governo, impõem aos eleitores o serviço do mito.

No entanto, o que é a democracia sem o ideal da igualdade e o do poder do povo (mesmo que por representação)? A pura funcionalidade acaba na indiferença dos cidadãos. A 'contagem dos códigos' só é eficaz se se acreditar que ela não é um refinado estratagema.


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