Abbaye de Fontenay |
"Deste modo, uma voz já não se faz ouvir, um homem
deixa de falar, conta-se apenas o seu voto. Já não estamos mais no âmbito do
acto de falar, estamos no da linguagem matemática. A uma democracia baseada na
palavra como acto substituiu-se uma democracia baseada na contagem dos códigos
(não sendo as sondagens mais do que tentativas desesperadas de conhecer o que
os códigos querem dizer).
(Fr. Jean-Michel Potin)
O voto tornou-se tão abstracto que já nada tem a ver com
o 'ter voz no capítulo'. Todos percebemos
que essa passagem nos foi imposta pelo funcionamento da democracia de massas.
A 'traição' dos eleitos está implícita no grau de
abstracção do voto, em que se projectam ideias e sentimentos que não sobrevivem
à revelação do 'artefacto' eleitoral com as primeiras acções de incidência
política.
Alguns partidos, porém, protegem-se da decepção dos seus
candidatos, por estes nunca serem confrontados com as consequências dos seus
actos, na falta da oportunidade de exercerem qualquer cargo, ou porque, no governo,
impõem aos eleitores o serviço do mito.
No entanto, o que é a democracia sem o ideal da igualdade e o do poder do povo (mesmo que
por representação)? A pura funcionalidade acaba na indiferença dos cidadãos. A
'contagem dos códigos' só é eficaz se se acreditar que ela não é um refinado
estratagema.
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