segunda-feira, 1 de outubro de 2012

O UNIFORME DE KAFKA

Franz Kafka


"O cinema é pôr um uniforme no olho."


(Kafka, citado por Paul Virilio)


A imagem é estranha, mas podia dizer-se o mesmo de todas as formas de arte. Kafka morreu em 1924 e já podia conhecer as obras-primas de David Griffith que lançaram as bases desse grande meio de expressão e 'uniforme' da percepção visual que é o cinema.

O 'uniforme' está longe de ser a indiferenciação e a monotonia. O que é único é a forma, mas não o conteúdo. Em relação à pintura, já Proust dizia que o pintor que traz algo de novo, revolucionando a forma, faz como o oculista que levando-nos a experimentar outras lentes nos pergunta se, com elas, passamos a ver melhor.

É evidente que o cinema, nesse sentido, é, em cada etapa da sua história, a experiência de uns óculos novos, ou dum 'uniforme novo'.

A influência do cinema estende-se a toda a cultura, desde o jornalismo à literatura, enriquecendo e actualizando a percepção do mundo que nos cerca e do imaginário em que pensamos e sentimos.

Não há melhor expressão da validade deste 'uniforme' do que o termo 'kafkiano' que passou à linguagem corrente. Vemos o mundo através dum prisma em que cada face é uma forma específica, uma espécie de 'uniforme' dentro duma extrema diversidade.

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