Franz Kafka |
"O cinema é pôr um uniforme no olho."
(Kafka, citado por Paul Virilio)
A imagem é estranha, mas podia dizer-se o mesmo de todas
as formas de arte. Kafka morreu em 1924 e já podia conhecer as obras-primas de
David Griffith que lançaram as bases desse grande meio de expressão e
'uniforme' da percepção visual que é o cinema.
O 'uniforme' está longe de ser a indiferenciação e a
monotonia. O que é único é a forma, mas não o conteúdo. Em relação à pintura, já
Proust dizia que o pintor que traz algo de novo, revolucionando a forma, faz
como o oculista que levando-nos a experimentar outras lentes nos pergunta se,
com elas, passamos a ver melhor.
É evidente que o cinema, nesse sentido, é, em cada etapa
da sua história, a experiência de uns óculos novos, ou dum 'uniforme novo'.
A influência do cinema estende-se a toda a cultura, desde
o jornalismo à literatura, enriquecendo e actualizando a percepção do mundo que
nos cerca e do imaginário em que pensamos e sentimos.
Não há melhor expressão da validade deste 'uniforme' do
que o termo 'kafkiano' que passou à linguagem corrente. Vemos o mundo através
dum prisma em que cada face é uma forma específica, uma espécie de 'uniforme'
dentro duma extrema diversidade.
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