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"Quando se começa com esta lógica em que os
pensamentos decorrem muito naturalmente um do outro, não se pode nunca saber
aonde se vai chegar."
"O Homem Sem Qualidades". (Robert Musil)
Mas de onde vem esse 'movimento contínuo' dos
pensamentos?
Temos um ditado popular que associa as conversas às
cerejas. outro diz que 'as palavras são como as cerejas: vão umas atrás das
outras.' O 'jazz' é também um assunto de 'cerejas' e talvez não seja abusivo
comparar a conversação sem objecto a uma espécie de música.
O orador mais experimentado recorre muitas vezes a essa
'música', levando o espírito dos auditores nessa revoada que distende e afrouxa
as defesas do intelecto para voltar abruptamente ao seu tema. A 'divagação'
pode revelar-se a causa indirecta duma mudança de opinião ou do próximo sucesso
desta 'embaixada a Calígula' (porque todos somos intratáveis quanto ao núcleo
das nossas certezas).
As 'palavras de circunstância', sobre o tempo, por
exemplo, são como a tecla 'shift' (Barthes) que destapa o 'cesto das cerejas'.
Se as suprimíssemos da conversação, num delírio de eficiência, talvez
paralisássemos as comunicações.
A questão mantém-se de saber como é que um sistema tão
autista e redundante como o das palavras pode ser mobilizado para justificar as
nossas decisões no 'mundo real'.
Faz-me lembrar o documentário sobre Obama, que passou há
dias na RTP2. O comentador diz que, a certa altura, a política passou para o 'mundo
real' (a 'aposta' do presidente no assalto à casa-fortaleza que não se tinha a certeza de abrigar Bin
Laden).
Será que se pode sair de coisas como a política e a
conversação como num 'raid' sobre a realidade?
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