quarta-feira, 31 de outubro de 2012

A COMÉDIA DA REPETICÃO

A coroação de Napoleão na catedral de Notre-Dame



"'E o que é que pensa da mais recente comédia, a coroação em Milão?' perguntou Anna Pavlovna, 'e da comédia do povo de Génova e de Lucca apresentando as suas petições ao Senhor Buonaparte, e o Senhor Buonaparte sentado num trono e recebendo as petições das nações? Adorável! É o bastante para fazer a cabeça de uma pessoa andar à roda! É como se toda a gente estivesse doida!'"


"Guerra e Paz" (Leão Tolstoi)


Não bastaram as vitórias nem a conquista de Itália pelo grande cabo de guerra para ressuscitar o prestígio da Roma Antiga. A monarquia dos Bourbons, depois, era já uma sombra do que tinha sido.

Mas Napoleão foi amado, apesar dos desastres para que arrastou o exército da França, porque, tendo o terramoto da Revolução atrás de si, pôde fazer tábua rasa das antigas diferenças de classe (para criar outras) e permitir a todos os novos ambiciosos beneficiar da redistribuição do poder. Então surgiram homens como o barão de Turelure ("L'Otage" de Claudel), mais execrável do que qualquer aristocrata, e Jean Sorel, o herói de Stendhal, com mais alma do que ambição, como se viu no desfecho do romance ("O Vermelho e o Negro").

O salão de Anna Pavlovna, em S. Petersburgo, ainda não sabe o que está para acontecer ao seu país e à côrte do czar. Nenhum 'decadente' pôde troçar, depois, da tragédia de Moscovo entregue às chamas, prenúncio do 'homem novo' que construiu um império mais duradouro do que o de Napoleão.

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