A coroação de Napoleão na catedral de Notre-Dame |
"'E o que é que pensa da mais recente comédia, a
coroação em Milão?' perguntou Anna Pavlovna, 'e da comédia do povo de Génova e
de Lucca apresentando as suas petições ao Senhor Buonaparte, e o Senhor
Buonaparte sentado num trono e recebendo as petições das nações? Adorável! É o
bastante para fazer a cabeça de uma pessoa andar à roda! É como se toda a gente
estivesse doida!'"
"Guerra e Paz" (Leão Tolstoi)
Não bastaram as vitórias nem a conquista de Itália pelo
grande cabo de guerra para ressuscitar o prestígio da Roma Antiga. A monarquia
dos Bourbons, depois, era já uma sombra do que tinha sido.
Mas Napoleão foi amado, apesar dos desastres para que
arrastou o exército da França, porque, tendo o terramoto da Revolução atrás de
si, pôde fazer tábua rasa das antigas diferenças de classe (para criar outras)
e permitir a todos os novos ambiciosos beneficiar da redistribuição do poder.
Então surgiram homens como o barão de Turelure ("L'Otage" de
Claudel), mais execrável do que qualquer aristocrata, e Jean Sorel, o herói de
Stendhal, com mais alma do que ambição, como se viu no desfecho do romance ("O Vermelho e o Negro").
O salão de Anna Pavlovna, em S. Petersburgo, ainda não
sabe o que está para acontecer ao seu país e à côrte do czar. Nenhum
'decadente' pôde troçar, depois, da tragédia de Moscovo entregue às chamas,
prenúncio do 'homem novo' que construiu um império mais duradouro do que o de
Napoleão.
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