domingo, 7 de outubro de 2012

A BALANÇA DE PAGAMENTOS






No filme de Sidney Pollack, “Yakuza” (1975), um americano (Robert Mitchum), em dívida com um membro daquela seita (roubara-lhe a mulher), sente-se na obrigação de cortar um dedo para obter o seu perdão.

De que ponto de vista é que se impôs a cultura japonesa?

Nos States, Mitchum alguma vez teria pensado que as coisas se deviam resolver assim?

Mas ele tinha assistido a uma cerimónia em que Ken (Ken Takakura) tinha amputado um dos seus dedos que ofereceu ao homem, cujo filho havia morto em combate (apesar de ter prometido poupá-lo). O dedo não deixa de ser aqui um símbolo, porque a substituição é impossível.

No “Império dos signos”, o corpo e a escrita são uma e a mesma coisa. Na cultura do Ocidente, a substituição simbólica é eficaz (o cordeiro pascal). Mitchum podia, com honra, conservar a mão inteira, desde que se arrependesse (se dissesse: I’m deeply sorry).

Mas o pensamento não é livre senão na sua língua (a pátria de Pessoa). Mitchum pensou como um japonês para evitar um desequilíbrio permanente da balança de pagamentos entre as duas culturas.

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