quarta-feira, 17 de outubro de 2012

A BOLSA E A POESIA

Lord Byron (1788/1824)



"Logo que a experiência dos tempos razoáveis da vida pode atacar uma das minhas imagens, eu abandono-a, não quero que o leitor encontre em mim as mesmas sensações que na Bolsa."

(Lord Byron a Stendhal, segundo este)




Para o grande poeta inglês, enamorado de Sintra, a Bolsa seria um lugar 'razoável' (a lógica dos interesses?), diferente da paixão do jogo. E não se pode negar que se o mercado é, além de outras coisas, evidentemente, um instrumento de medida 'ad hoc' dificilmente substituível, a Bolsa parece ser a sua quinta-essência.

O instrumento pode ser razoável, quem se serve dele é que muitas vezes não é. No "Eclipse" de Antonioni, temos um vislumbre desse ambiente. O minuto de silêncio que interrompe o tumulto das ordens de compra e venda mostra como a 'razão' convive com as piores companhias.

Quanto ao que importa, Byron tem razão. O razoável é previsível e engendra o tédio na poesia. A única antecipação permitida é a da forma (a rima, a aliteração ou o ritmo). E essa é como uma disciplina para a imaginação.

A poesia, mesmo a elegíaca ou a decadente à Soares dos Passos, cria o seu próprio tempo, um futuro que conserva qualquer lógica à distância. A lógica que nos permitiria concluir contra a vida.


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