"Se fosse preciso, ele apresentava-me a sua condessa
sem corar. Tinha, talvez tenha ainda, uma alma nobre, mas é louco."
(Madame Boissier, mãe duma antiga aluna de Liszt)
A adversativa retira com uma mão o que se concede com a
outra. O grande virtuoso do piano não se envergonhava duma ligação irregular e
muito menos daria motivo de ofensa à susceptível D'Agoult. Era uma alma nobre.
Por outro lado, tudo o que fazia neste capítulo (da
nobreza de alma) não vinha dele, nem do melhor dele, como homem e artista.
Era uma influência externa como a do 'daimon' socrático
que não lhe 'soprava' o que fazer, mas que o impedia de fazer certas coisas.
A vantagem dum tal conselheiro é a de podermos dispensar
os artigos duma fé, qualquer que ela seja, para estarmos presentes a nós mesmos
como um todo, no passo perigoso ou desconhecido. De facto, o que sabemos de nós
próprios reduz-se ao papel duma personagem sem importância. O que não sabemos,
nem podemos saber é que é importante.
Não admira que Madame Boissier se defendesse de tanta
incerteza com o catálogo da loucura.
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