Baixos-relevos do Kama Sutra (Índia) |
A abertura do ser íntimo, num lugar público como é a Internet, encontra os limites do pudor, da prudência ou do bom-senso, conforme a geração e a classe. Não incluo as razões éticas, porque existe, como diria Foucault, mais uma compulsão para falar do sexo, por exemplo, do que um interdito.
Por isso, hoje em dia, não se compreenderia um género como as “Confissões”.
Talvez só o amor (na sua loucura, no seu anacronismo), como viu Roland Barthes, ou a devoção autêntica possam justificar uma reserva da palavra, porque não são, nem modernos, nem razoáveis.
Claro que o comércio, uma cultura do amor performativo e consubstancial ao sistema de saúde pública se apresentam como o mais sólido investimento social. E que as igrejas eventualmente se enchem dum povo que já não é o dos fiéis e para quem a doutrina é uma chinesice que se protege do exame científico à sombra do prestígio histórico e institucional.
Se a palavra do Evangelho deve ser sempre um escândalo, nunca estivemos tão perto de aceitar essa palavra e o seu contrário, com igual disponibilidade intelectual, longe que estamos de qualquer consequência prática.
É por isso que a questão de descobrir aquilo que nos impede de dizer a verdade e toda a verdade é uma aventura sem fim.
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