"Foi a guerra à hipocrisia que transformou a
ditadura de Robespierre em reinado do Terror, e a característica deste período
continua a ser a autodepuração dos dirigentes."
(Hannah Arendt)
A ideia de que não se fazem revoluções sem
revolucionários (ou que não se faz a democracia sem democratas) é demasiado ingénua, e a
história está cheia de casos em que 'as faúlhas do incêndio" estão mais do
lado das coisas do que do lado dos homens.
A acusação de hipocrisia sempre foi uma arma política
(como aconteceu entre nós com a Inquisição). Como é o produto da imaginação e
do ódio nunca deixa de criar os seus próprios monstros. Para um fanático como
era Robespierre no poder (circunstância que tem tudo a ver com o caso), o Povo,
de quem era o 'incorruptível' representante justificava e tornava legítimas
todas as suspeitas.
Mas a Revolução falhada a que presidiu não deixou de o
imolar em nome dos mesmos princípios.
Homens como o abade Jean Meslier (1664-1729) que toda a vida
professou publicamente uma fé que os seus diários desmentiam, são actores da
tragédia tanto como os que reivindicam para si a virtude da 'sinceridade'. A
representação de uns e outros é a regra do palco.
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