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"A falha lógica nestas hipotéticas construções de
acontecimentos futuros é sempre a mesma: o que primeiro aparece como uma
hipótese - com ou sem as suas alternativas implícitas, de acordo com o nível de
sofisticação - torna-se imediatamente, por norma alguns parágrafos depois, num
'facto', que então faz nascer toda uma corrente de não-factos similares, com
o resultado de que o carácter puramente especulativo é esquecido."
Hannah Arendt
Tudo, afinal, assenta no 'carácter especulativo', mais ou
menos implícito, seja no domínio da matemática, seja no do 'bom-senso', mas a
origem da especulação é tão longínqua que passou a confundir-se com a natureza
das coisas.
São os problemas, práticos ou teóricos, que nos levam a
rever aquilo que considerávamos natural. Não é outra coisa o que ensina Karl
Popper quando fala na incerteza de todo o pensamento e quando diz que, na
ciência, nada é adquirido.
Mas é evidente que a política tem outras necessidades,
mais urgentes, que não se compadecem com o processo científico nem com o
estatuto de incerteza do que consideramos verdadeiro.
É preciso pois abdicar da 'ética' científica e afastar
com um gesto decidido o enxame das dúvidas e ereger os 'não-factos' em palavra
'divina'. Os sacerdotes desta milagrosa conversão são os economistas que
libertam os políticos dos últimos escrúpulos.
Se A passou a ser Não-A, passados alguns dias ou algumas
horas, o problema tem sempre uma explicação lógica, porque se pode provar tudo, desde que abdiquemos dos factos.
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