quarta-feira, 10 de outubro de 2012

O DIÁLOGO


Su Xinping (1960-) Dialogue, 1989





"O diálogo transforma-se, então, num jogo praticado por dois interlocutores, em conjunto associados contra a interferência e a confusão, digamos contra um indivíduo obstinado em romper a sua comunicação."


(Michel Serres)


Não se pensa o bastante nessa qualidade 'militante' do diálogo. A palavra está cercada de ruído e é preciso criar um espaço favorável à comunicação.

Evidentemente que nós próprios podemos interferir nessa comunicação, por exemplo, com o solilóquio habitual ou com as nossas defesas 'anti-aéreas' contra tudo que pode atingir o bastião dos nossos preconceitos.

Estar todo presente num diálogo pressupõe, de facto, quase o impossível, e há qualquer coisa de 'milagroso' em dispormos, quando queremos, da atenção absoluta (a atenção de que falava Simone Weil).

Este trabalho de não deixar entrar o mundo é, claro, dos dois interlocutores, o que torna a coisa ainda mais rara.

Sempre me fez pensar o facto de, por exemplo, o espectáculo do mar não ser, normalmente, uma experiência 'transcendente', mas mais um encontro connosco mesmos, pelo menos com a parte cogitante de nós.

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