Andrei Roublev (1966-Andrei Tarkowski) |
Começa-se por assistir à ascensão espantosa dum balão. Com os materiais e os preconceitos da Idade Média. O facto provoca a revolta dos camponeses. Nesse prólogo estão como que resumidas as tentativas patéticas do espírito humano para se subtrair ao peso da violência e da animalidade. O pintor de ícones deixa de pintar diante da sucessão de males que fazem descrer no homem. Mas o tártaro que entrou a cavalo na catedral quer saber o que representam os frescos e o chefe da conspiração sente-se no dever de defender a imaculada concepção.
Parece que única via é a salvação individual. Roublev obriga-se a levar uma vida de silêncio. A festa camponesa e o paganismo são perseguidos. O ofício de jogral é subversivo. Para quê pintar e para quem? O artista vive na dependência do brutal senhor que à menor infidelidade lhe pode mandar vazar os olhos.
O que vai fazer o pintor mudar de ideias e encher as catedrais de obras-primas é a história dum sino. O órfão do sineiro mente para ganhar o lugar do pai e sobreviver. Contra os poderosos e os operários mais velhos sustentou a ficção dum segredo de fabrico legado à hora da morte. E graças à coragem e à extraordinária fé desta criança, o sino ergueu-se e encheu de sons a planície. O ditador acaba por favorecer a arte por causa do comércio. A cabeça do pequeno sineiro está por um fio se o sino não tocar diante dos venezianos. Tudo corre bem, mas a criança que sabe não haver afinal nenhum segredo, não suporta a força que descobriu em si.
Roublev põe fim ao voto de silêncio. Doravante o sineiro e o pintor de ícones trabalharão juntos. A obra nasce de acreditar numa criança que não tem nada para dar em troca. Isso era suficiente para devolver a fé no homem ao monge desiludido. O pecado é pensar que tudo está perdido, não é verdade? Ou que tudo está salvo, completaria Alain.
1 comentários:
Ainda ontem me prometeram o empréstimo do dvd para ver este filme.
A conversa girava em torno da fé ou da falta dela e do paralelismo de Roublev com Miguel Ângelo.
Fantástica coincidência.
Maria Helena
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