sábado, 13 de outubro de 2012

OPEN COUNTRY






No autocarro, um par beija-se, mas não alheado do mundo. Com ênfase e teatro. Depois, ele sai na próxima paragem e eu confirmo, pela janela, os traços da luta que acabava de travar. Guardava ainda um ar de desafio.

Em vez de encolher os ombros ou de dizer com os meus botões: - como os tempos mudam! contrapondo a imagem dos beijos pioneiros de Paris, quando passava pela capital do amor, que esses sim é que seriam espontâneos e românticos, sigo a mórbida tendência especulativa e penso no que há aqui de perda de intimidade, como se o que não fosse público não tivesse valor. Mas também no conformismo que se esconde por detrás da pequena provocação.

Espera-se que o jovem se rebele contras as normas, que desafie o mundo do qual emerge como adolescente ainda, como sempre aconteceu. Ora bem, os símbolos dessa iniciação não se encontram, de há muito tempo, na casa comum dos homens, como se lê na antropologia, mas no mundo da publicidade.

Como modelo do acto voluntário existe um ícone da moda (para abreviar), no qual ele se recorta, tornando o amor consciente do argumento, das cenas e dos diálogos.

É sabida a influência da literatura na realidade amorosa. Depois o cinema tornou-se, ele próprio, um estúdio das paixões. Mas a publicidade é que acabou com o romance. Dispensadora de neuroses, de fragmentação e de actos sem sentido.

Open country.

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