Van Gogh |
É incrível como o céu ficou para nós reduzido à meteorologia, às nuvens cinzentas, tão apropriadas ao humor do tempo de trabalho, e ao azul Kodak das férias.
A noite são as luzes da cidade, sem o vagabundo a acordar com a inauguração da estátua que nos mostrou um poeta do cinema.
Só quem, fugindo à iluminação artificial, já procurou num descampado ou no cimo dum monte, o céu dos primeiros mapas, a epifania de estrelas que veio lá de cima alguma vez arrancar-nos da terra, é que sabe quanto é difícil e extraordinária uma noite transparente.
Eu nunca mais voltei a ver uma noite como a que vi, há uns anos, no Baleal.
Com tanta luz, se calhar, não teríamos qualquer acção, não poderíamos, por exemplo, fazer política, escrever ou pintar como Van Gogh.
A velinha da nossa vaidade, tão necessária para qualquer dessas actividades, não resistiria ao poderoso vento das estrelas.
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