quarta-feira, 12 de novembro de 2014

ILUSŌES

 

"(...) os versos adoecem
em certos ambientes, ganham artrite em sítios
imprevisíveis, ficam primeiro apenas frases,
depois discursos, acabam em decretos-lei."

(Gonçalo M.Tavares)


O tempo muda o lugar e o lugar muda o tempo...

Os "sete dias que abalaram o mundo" não levaram ninguém à 'terra prometida', mas a frase só diz que abalaram. O mundo acordou na sua versão histórica, feita de frases e de decretos-lei que extenuaram o líder. O tempo parecia acelerado, mas arrastava os pés, preso à grilheta de sempre.

No filme de Eisenstein, a barba ponteaguda de Ivan parece uma montanha no écrã que o povo em colunas tem de escalar ao som de um coro milenar. A voz do baixo é o ritmo da massa, progredindo sempre rente ao chão.

Não é apenas a natureza que 'regressa a galope' quando a esquecemos. Ou a poesia que se solidifica em prosa e se degrada em hábito logo que não a merecemos. Porque é esse o destino 'feliz' dos nossos sonhos, efémeros como nós próprios.

Ilusões perdidas? De que outro modo as conheceríamos?

 

 

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