"Ensaio de Orquestra" (1979-Federico Fellini)
"Ensaio de Orquestra" é uma parábola pessimista sobre os tempos modernos. A cultura de reivindicação e dos direitos individuais, o romantismo dos anos 60 e 70 acabaram por comprometer a sobrevivência daquelas coisas que dependiam duma comunhão do pensamento e da subordinação do individual ao que o transcende.
A orquestra resume admiravelmente esse estado de espírito e a presença do sindicalista a fazer a "marcação" cerrada do maestro seria o sinal mais visível dessa decadência.
É típico do pensamento de Fellini que seja a televisão (que entrevista os músicos, um a um) a espoletar uma furiosa vontade de expressão e a valorização exclusivista de cada instrumento.
O acesso directo à audiência das audiências, representada pelos telespectadores, enlouquece metais e cordas, todos os naipes, como prima-donas ou vozes solitárias e incompreendidas se lançam numa orgia de expressividade a que nem as paredes escapam.
Depois da completa destruição do prestígio do maestro, da sua aura, e do espírito de cerimónia religiosa que, segundo este, seria um concerto, surge o camartelo do fim da civilização.
No meio da poeira dos escombros, o maestro aponta então o único caminho de regresso: a música.
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