quinta-feira, 6 de novembro de 2014

A PUREZA DA DESTRUIÇÃO

 

"Para ele (Maquiavel) o ponto decisivo era que todo o contacto entre a religião e a política tem de corromper ambas, e que uma Igreja não corrompida, se bem que consideravelmente mais respeitável, seria ainda mais destruidora para o domínio público que a Igreja corrompida de então."

(Hannah Arendt)

 

Eis uma antecipação genial do que se passa hoje, mais de quinhentos anos depois, em grande parte dos países muçulmanos. Pode dizer-se que a Igreja Católica soube conter os seus místicos mais furiosos, como Savonarola, mandando-os para a fogueira, não se precavendo, por outro lado, contra a contaminação política, o que levou ao quase desaparecimento do 'espaço público' durante a Inquisição.

O Estado moderno naqueles países não está apenas ausente, denunciando aos olhos dos Ocidentais um anacronismo revelador, mas, mesmo descontando a demagogia fanática de alguns líderes, não pode deixar de erguer-se como uma temível ameaça para o modo de vida das populações.

Se tal visão do futuro nos fosse apresentada na Idade Média, recuaríamos com um "vade retro" adequado.

É assim que a chamada globalização ganha efectividade, num processo conflitual, em que só as grandes religiões podem dispor de alguns trunfos. Porque as culturas mais fracas, em parte já 'folclorizadas', serão sorvidas pelo turbilhão homogeneizador, disparando setas para o ar.

Era preciso uma alternativa a Darwin, menos ridícula do que o 'Grand Design'.

 

 

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