domingo, 30 de novembro de 2014

FÓRMULAS

Umberto Eco

 

"É por isso que o tempo da autoridade judiciária, o tempo de uma longa retrospectiva, diverge do tempo do poder executivo, apanhado num presente complexo que a decisão do juiz vem ainda complicar mais, parecendo ser do campo dessas escavações arqueológicas que bloqueiam os projectos dos construtores."

(Michel Rouger, citado por Umberto Eco)


Vemos em "Roma" de Fellini um desses acontecimentos. As obras do 'metro' têm de ser suspensas por causa de uma sala com frescos soterrada e cujas cores se deterioram rapidamente ao encontro do ar exterior. O tempo da história vem interferir no plano dos engenheiros.


Mas o 'tempo judiciário' que vem 'complicar' a política, não está preservado em nenhuma cápsula fora do mundo, de resto, tal como no exemplo dos frescos romanos que só manterão o seu valor de monumento se encontrarem num museu as condições da sua conservação. A influência do 'ar exterior' impede que o juiz se possa basear unicamente num suposto 'espírito' da lei.

O tempo judiciário difere do tempo da política em geral, mas tende cada vez mais para um desfasamento que é essencial à democracia. Não é a dualidade entre o poder político e o poder espiritual, tal como era, por exemplo, na concepção de Auguste Comte. Isto é, este 'jogo' de equilíbrios tende para uma regulação e por isso pode passar sem uma ética.

De tal modo que os 'procedimentos' teriam o efeito prático de uma fórmula e uma igual competência técnica. Se falharem os procedimentos, a justiça fica demasiado exposta.

 

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