terça-feira, 4 de novembro de 2014

O LIVRO NA ALGIBEIRA

Condorcet

 

O Marquês de Condorcet, expoente do iluminismo, apoiante de uma Revolução que tentou criar o culto da Razão divinizada, filósofo e matemático eminente, caiu em desgraça quando o partido da Montanha suplantou todos os outros partidos da Convenção e lhe foi colado o rótulo de girondino, a anterior maioria. Não ser tão 'puro' revolucionário como os montanhistas era já ser pontencialmente traidor. Condorcet teve de se esconder no início de 1794.

O livro de versos de um poeta latino (Horácio) que levava no bolso denunciou-o numa localidade que, simbolicamente, tinha mudado de nome (de Bourg-la Reine para Bourg-l'Égalité). Foi preso e morreu dois dias depois de encarcerado, em circunstâncias suspeitas.

Podíamos tentar atenuar este atentado à igualdade, precisamente, dizendo que os ignaros 'citoyens' que o denunciaram e arrastaram para o calabouço "não estavam preparados" para distinguir a igualdade da uniformidade, em consequência de mais de um milénio de privilégios de que se tinham apossado os aristocratas.

Mas olhamos para a cúpula e o que vemos? Um homem fez o seu caminho até ao poder da ditadura eliminando as 'impurezas' que se levantavam à sua volta. O povo baptizou o antigo advogado de Arras, com o título de 'Incorruptível'. A sua virtude, inspirada nos heróis de Plutarco, exasperada pela guilhotina do cálculo e pelo bafo mefistofélico de um Saint-Just perdido no seu século, tornou-o no próprio aborto da Razão iluminante.

A Enciclopédia Britânica termina assim a sua entrada 'politicamente correcta', sobre François-Marie-Isidore Maximilien Robespierre: "Muitas vezes visto como um ditador sedento de sangue, foi mais tarde valorizado pelos seus ideais sociais de redução da desigualdade e de garantia de trabalho para todos."

 

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