terça-feira, 25 de novembro de 2014

PASSADA PREDADORA

"Medo do terrorismo, decerto; mas também, e talvez de forma mais insidiosa, medo da rapidez incontrolável da mudança, medo da perda de emprego, medo de perder terreno para os outros numa redistribuição de recursos cada vez mais desigual, medo de perder o controlo das circunstâncias e rotinas da vida quotidiana."
(Tony Judt)

Estes medos são característicos dos tempos que correm e, de facto, como dizia Arendt, "perfazem o caminho para o inferno" com quase tão bons argumentos como o do totalitarismo, a 'maldição' do século XX.

Nessa diferença churchiliana continuamos a crer, mas é demasiado fácil para muitos verem só o que têm à frente dos olhos, tornando a utopia negativa ainda desejável, se calhar, por falta de imaginação.

A palavra-chave na citação de Judt é 'incontrolável'. Mais do que a expansão demográfica que, para se manter ou adquirir o nível de vida do Ocidente, exigiria por si só a actual potência tecnológica, as redes e o global, o que parece mais escapar ao 'controle' e constituir a maior força de mudança é precisamente a tecnologia. A imagem do terrorista tribal com um 'smartphone' é o exemplo mais impressionante daquela famosa contradição de Marx entre o 'estádio objectivo das forças produtivas' e as 'relações subjectivas de produção'. O encontro do fanatismo 'religioso' e da alta tecnologia.

Ninguém acredita em novas teorias do 'crescimento zero', ou em que, por exemplo, o capitalismo 'sui generis' da nova China não vá até ao fim das suas possibilidades de crescimento económico e de enriquecimento. E em que se tornariam a Europa e os EUA se se tentasse alguma espécie de controle sobre a inovação e o impulso tecnológico?

A rapidez da mudança está a relativizar todos os nossos valores e todas as nossas crenças. Aparecem 'monstros' fora de catálogo em todos os campos da 'superestrutura', desde a política às finanças. São híbridos que aparentam o respeito dos valores de sempre e que, ao mesmo tempo, os subvertem completamente, com a convicção do direito a viver a falta de ética dos novos tempos.

A ética atrasa a sua passada predadora.

 

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