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"Sente-se que o Sr. Marcel Proust tem diante dele todo o tempo que é preciso para amadurecer, combinar, conseguir uma obra considerável. Todo o tempo é dele: ele aproveita-o à sua maneira. Considera-o à partida como tempo perdido."
(Henri Ghéon, Gallimard)
Ghéon era crítico na Gallimard, e julgava assim, em 1914, o impacto do primeiro volume da "Recherche" ( 'Du côté de chez Swann'). Mais tarde, a editora mudaria de opinião.
Com Proust, o tempo unilear que 'enquadra' a narração e lhe confere o carácter de uma história, com princípio, meio e fim, é apenas uma das maneiras de contar, e é pura exterioridade. Ghéon vê na igual importância que têm, no romance, os dramas da realidade e as impressões do autor, ou o 'preciosismo' das suas análises servido pela frase serpentina e por uma hipersensibilidade 'moderna' um factor que desqualifica a construção proustiana, que aos seus olhos não é decididamente um romance (isto é um objecto reconhecível, dentro de uma certa tradição literária), mas qualquer coisa como uma soma de fragmentos que podiam ser numerados quase aleatoriamente como os 'Ensaios' de Montaigne.
A ironia sobre o tempo perdido é reveladora da incompreensão do crítico da Gallimard. Porque se tudo 'flutua', entrechocando, como se o acaso, em vez da gravidade, regesse estes 'corpos terrestres' não é Isso o sinal do novo papel do sujeito no mundo descentrado que é o da modernidade?
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