quarta-feira, 30 de abril de 2014

OS CÁLCULOS DO PODER ABSOLUTO

Kissinger e Mao Zedong

 

"Se a União Soviética lançasse as suas bombas e matasse todos os que têm mais de 30 anos e são chineses, isso resolver-nos-ia o problema [da complexidade dos muitos dialectos da China]. Porque as pessoas de idade como eu não conseguem aprender chinês [mandarim]."

(Mao Tse Tung, em conversa com Henry Kissinger, in "On China")

 

A nação mais populosa do mundo 'podia' permitir-se uma sangria como essa. Mao bravejava, sempre que podia, com esse 'trunfo' na eventualidade de uma guerra nuclear. " Na mesma obra do secretário de estado de Nixon, pode ler-se esta outra citação de Mao:

"Mesmo que as bombas atómicas dos EUA fossem tão potentes que, quando lançadas sobre a China, fizessem um buraco que atravessasse a Terra, ou até a fizesse explodir, isso praticamente não teria significado para o Universo como um todo, embora talvez fosse um acontecimento importante para o sistema solar (...) Se os Estados Unidos com os seus aviões mais a bomba A lançassem uma guerra agressiva contra a China, então a China com o seu painço e espingardas teria a certeza de sair vencedora. Os povos de todo o mundo apoiar-nos-ão." ("The chinese people cannot be cowed by the Atom Bomb")

É um erro ver nestas declarações uma simples bravata do número um. De facto, o presidente da RPC, serve-se da ideologia comunista para actualizar uma antiquíssima tradição dos imperadores da China. No pressuposto de que o seu imenso país é "Tudo o que existe debaixo dos Céus" e que todas as restantes nações da terra têm um estatuto inferior, de súbditos ou protegidos do império, a temeridade do secretário-geral, principalmente numa situação de fraqueza relativa perante as duas superpotências e algumas nações europeias, era a 'linha correcta'. A de nunca admitir que a China estivesse ameaçada ou numa posição de 'suplicante'. Os chineses é que eram os 'deuses' e só eles poderiam acolher e proteger as 'súplicas' dos outros povos.

Talvez este fosse apenas o sentimento da corte e do mandarinato, porque não se quadra com a atitude humilde e circunspecta que a imagem tradicional do povo chinês nos apresenta.

De resto, é essa 'sabedoria' que explica a continuidade da China, apesar dos contínuos massacres que a política dos seus líderes tem provocado até aos nossos dias.

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