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"A pátria não é o sítio em que nos coloca o acaso do nascimento, à mão direita ou à mão esquerda de um guarda da alfândega, mas sim o conjunto humano a que nos liga solidariamente a convicção de um pensamento e de um destino comum. Já um sábio o disse: 'Ubi veritas ibi patria'. A pátria não é o solo, é a ideia. Para que haja uma pátria portuguesa é preciso que exista uma ideia portuguesa, vínculo da coesão intelectual e da coesão moral que constitui a nacionalidade de um povo.
Sabem dizer-nos se viram para aí esta ideia?…
Nós temo-la procurado de aventura em aventura, de jornada em jornada, numa peregrinação de vinte anos através desta sociedade, como Ulisses, vagabundo através da Odisseia, em busca, do fumozinho ténue e amigo que adeje no horizonte por cima da primeira cabana d'Ítaca."
"As Farpas" (Ramalho Ortigão e Eça de Queirós)
Para a geração dos "Vencidos da Vida", o mal do país era profundo. Eça ainda se resgatou, descrevendo-nos a irrelevancia e a futilidade do 202 dos Campos Elísios, quando comparado com as serras de Baião. Mas isso foi muito mais tarde, depois de apalpar muitas vezes a 'caveira', como o seu póstumo Jacinto.
É que não tínhamos sequer direito a um destino comum, a uma ideia moral que nos ligasse! A situação pedia um cataclismo, mas pequeno, à medida a que esses patuscos nos fizeram.
Foram decerto exageros da juventude (Eça tinha 26 anos quando surgiram as 'Farpas' e Ramalho, 35), mas na linha 'tradicional' do auto-apoucamento.
João Miguel Tavares, no 'Público' refere-se à "dificuldade que o país tem em heroicizar os seus heróis e trabalhar a memória dos grandes acontecimentos, como se fôssemos um buraco de meio milénio que inexiste desde o tempo dos Descobrimentos (...)
JMT diz que essa atitude "tem como consequência a desvalorização de feitos tão prodigiosos quanto aquele que São José Almeida recuperou num excelente trabalho na revista do 'Público': a integração dos retornados após o processo de descolonização, em números que ninguém parece conseguir realmente calcular (andarão entre o meio milhão e um milhão de pessoas), um movimento populacional sem paralelo na Europa do pós-guerra, tendo em conta a dimensão de Portugal."
Deve ser, realmente, por não termos nenhuma ideia da pátria e do povo que somos que banalizámos o Panteão. Para recuperarmos a ideia da pátria e do povo português talvez nos falte ainda alguma distância crítica em relação à história contemporânea.
Entretanto, virar as farpas contra nós mesmos é um desporto nacional, conhecido e estimado para lá de todas as proporções.
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