sábado, 5 de abril de 2014

A INSTRUÇÃO DE JOB

Job

"E depois, ele conseguia, de qualquer modo, carregar a sua pena um pouco mais longe, como um peso demasiado pesado para ele, infinitamente inútil, num caminho onde não encontrava ninguém para falar dela, dessa pena, de tal modo era enorme e múltipla. Nem saberia explicá-la, era uma pena que ultrapassava a sua instrução."
"Voyage ao bout de la nuit" (Louis-Ferdinand Céline)

Na citação deste romance em que nenhuma luz aparece, nem na terra, nem no céu, para guiar o caminhante na noite escura, o que é extraordinário é a palavra instrução. Não se trata de sensibilidade. O caminhante decerto sofre mais do que aquele que pudesse compreender e dar um sentido à sua pena.

Não é um bruto, ou um inconsciente, que carregasse o seu fardo como um animal, aliviado pelo facto de nem sequer pensar nisso.

É um homem que não cometeu nenhum crime, nem nenhuma injustiça e, no entanto, é perseguido. Não consegue explicar o que lhe acontece nem, "por falta de instrução", como diz Bardamu, encontrar consolo e justificação numa figura como Job.

Mas a explicação de Job, que transforma a injustiça numa prova de fé, não é uma verdadeira explicação.
É atribuir a tudo um sentido a priori por causa das vias misteriosas de Deus.

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