quarta-feira, 9 de abril de 2014

ABSOLVIÇÃO

Lutero

 

"É mil vezes mais importante crer firmemente na absolvição do que ser digno dela. Esta fé torna-vos digno e constitui a verdadeira satisfação."
(Lutero, sermão sobre "A Justificação", Leipzig 1519)

Li esta citação em Camus ("Cahiers") e pareceu-me valer muito mais do que a elegância clássica do estilo.

O que aqui se diz é verdadeiramente spinoziano. Diz-se que a vera recompensa da virtude é a própria virtude, e não o prémio que nos espera no final do nosso esforço. É também ir ao encontro do que diz, noutro lugar, o grande filósofo de origem portuguesa: que não se pode perseguir a perfeição de um outro, isto é, que só se 'acaba bem' (ideia implícita no conceito de perfeição) aquilo que é realmente nosso. Spinoza adverte-nos para a impossibilidade de uma perfeição exterior, como é, por exemplo, a de um animal, mas não menos a de outro homem. No primeiro caso, perseguiríamos uma quimera, como as que abundam na mitologia clássica; no segundo, a máscara (a 'hipocrisia' do actor).

Não merecemos a 'absolvição', ou a paz connosco mesmos, porque somos melhores, mas fazemos a paz primeiro em nós (ou acreditamos que ela seja possível) e o resto vem por acréscimo.

"Conhece-te a ti mesmo."

 

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