"A paixão dos fortes" ("My darling Clementine", 1946-John Ford) tem tudo para me encher as medidas.
O "Monument Valley" que é o melhor anfiteatro da tragédia, as cavalgadas no espaço aberto, o céu tempestuoso da noite em que Earp e os irmãos chegam a Tombstone e um romance delicado que não se resolve, mas fica como uma flor que não se sabe se resistirá à ventania do deserto. "I surely like that name, Clementine!"
Entre os dois heróis do "Bem", Wyatt Earp e Doc Holliday há a rivalidade por causa duma mulher e uma admiração mútua (basta ver o olhar do novo sheriff para a forma como Doc termina o monólogo do "Hamlet"). Mature tem aqui o seu grande papel, numa carreira sem brilho.
Mas que dizer deste Wyatt Earp com que Henry Fonda nos delicia? Simples, terra a terra, quase bonacheirão, quando responde a Doc com a boca cheia, intrépido, fulminante, lacónico quanto baste, a perfeição do "cool", duma ingenuidade infantil em tudo o que se relacione com o outro sexo, perante o qual se sente desarmado e canhestro.
Não se pode falar desta obra-prima, sem se referir a grande composição de Walter Brenner, a velha gralha claudicante de "Rio Bravo" e "To have and to have not". Nos antípodas dessa bonomia, temos aqui a maldade no estado puro. A sua imobilidade e o seu olhar deixam-nos gelados, como se fossem a própria morte.
A sentença de Earp para este patriarca facinoroso dos Clanton, depois de ter perdido todos os seus filhos em OK Corral, é digna de Homero: - Vai, e oxalá vivas cem anos!
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