Manuscrito de Musill |
"- Numa passagem do seu 'Wilhelm Meister', o grande Goethe expõe, não sem paixão, um preceito de vida justo que diz: 'Pensar para agir; agir para pensar!'
(Arnheim ao seu criado Soliman, em "O Homem Sem Qualidades")
À primeira vista, o homem que defende a liga entre a cultura e os negócios, endossa a letra de Goethe na mesma direcção. Como para ele não existe qualquer incompatibilidade entre o pensamento e o dinheiro, a 'cultura' pode e deve traduzir-se em espécies monetárias. Arnheim, ele próprio, é a perfeita ilustração do seu preceito. Sendo um homem de sucesso, tem ideias operacionais sobre a administração da Cacolândia (essa quimera ingovernável conhecida pelo império austro-húngaro).
No entanto, por detrás do 'motto' goethiano, existe uma autêntica tradição filosófica. Só podemos pensar, de facto, na acção ou a partir dela. Tudo o resto não tem nada a ver connosco e pertence ao mundo da cópia ou da reprodução mais ou menos mecânica.
O que dá uma nota de perversidade à formulação de Arnhneim é que podemos chegar à conclusão de que 'só' agimos para pensar, como se a vida contemplativa fosse uma opção 'actual'. Claro que não era isso que queria dizer o magnata. Como se diz que ninguém é grande para o seu criado de quarto, Arnheim estava apenas a dar-se ares de nefelibata.
De resto, o seu sucesso mundano dependia também de veleidades como essa. Há uns anos atrás dir-se-ia: de 'contradições' como essa (falar em contradição sugere que dominamos o processo 'dialéctico').
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