quinta-feira, 3 de abril de 2014

A CÔRTE CELESTE

 

"(...) a ciência pensa como uma assembleia, como um tribunal ou uma igreja, e funciona como eles, de maneira que, na realidade, a história das ciências evolui, no pormenor como nas leis de conjunto, como uma repetição da história das religiões ou do direito."

(Michel Serres)


Não nos aproxima esta ideia da teoria da verdade como acordo inter-subjectivo? Destronada a Razão universal de divina descendência, que poderemos esperar para além de um acordo, sempre provisório, entre indivíduos que seguem um mesmo protocolo?

Todas as religiões são verdadeiras, num sentido regional. Não há conversão possível à unidade entre, por exemplo, o budismo e o cristianismo. Deus nem serve de denominador comum.

O facto das ciências parecerem ter uma única história, que é a história da complexidade crescente, deve-se à circunstância de uma só estirpe (de origem grega) ter avassalado o mundo com os seus prodígios.

Nesse aspecto, tornámo-nos incapazes de compreender que a história poderia ter sido outra, e outra a relação com a verdade. É difícil de aceitar, claro, que o nosso método científico, na maior parte dos domínios, aberto à experimentação e à crítica, se possa revelar tão vulnerável como, por exemplo, a física antes de Newton.

No fundo, é a mesma incapacidade que cegou o império de Qianlong de reconhecer que duas fragatas inglesas dariam conta das suas defesas costeiras ("On China", Henry Kissinger)

 

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