Captura de Joana d'Arc, Adolphe-Alexandre Dillens |
"A mediocridade vingou-se bem; ela foi queimada, ela que era o Espírito e a Vontade, pela burocracia desse tempo. Meu Deus, é talvez a mais bela história humana (...)"
(Alain, sobre Jeanne d'Arc)
Joana, que ouvia vozes, hoje, não teria a mínima das hipóteses de escapar ao diagnóstico de esquizofrenia. Em vez de se apoiar em Deus, no seu confronto com o exército inglês, o seu combate seria 'psíquico' com a ajuda do zyprexa ou da risperidona.
Muitas vezes ao longo da história se tem falado de 'loucura', a propósito do amor ou da devoção a uma causa ou a outras pessoas. Mas o mais louco de todos talvez seja aquele que se toma pela sua 'persona', por aquilo que representamos para os outros. Tudo isso é mais comum do que parece.
O fenómeno da 'Donzela de Orléans' foi que a sua fé, ou a sua 'loucura' contagiou os soldados de um rei fraco. Imunes a esse contágio, o estrangeiro e o tribunal que a condenou só viram a 'histeria' e a 'blasfémia'. Os interesses puderam cobrir-se com a capa da razão.
O que há então de tão admirável neste caso? É que o 'espírito e a vontade', como lhes chama Alain, tenham sido tão fielmente interpretados por uma criatura 'sem mundo', tão pura como a virgem dos evangelhos. E como ela 'escolhida' e 'possuída' sem pecado.
"Não há coisas belas senão as que a loucura dita e que a razão escreve." (Gide)
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