quarta-feira, 23 de abril de 2014

O ODRE DOS VENTOS

Bóreas

 

"Porque a máquina burocrática, nem por ser formada de carne, e de carne bem alimentada, deixa de ser tão irresponsável e tão inconsciente como as máquinas de ferro e aço."

(Simone Weil)


Talvez que o conceito de subsistema esteja mais actualizado do que o de máquina para descrever a burocracia. Não importa, é um facto que nem por ter leis e uma cultura próprias, a burocracia pensa, e por isso não pode ser consciente, nem responsável.

Descartes dizia que um relógio avariado não obedece às leis do mecanismo que conhecemos para medir o tempo. É outra coisa, até ser posto a funcionar. Isto, não para dizer que existe uma burocracia que funciona e outra 'avariada' ou perversa que parasitaria o sistema, mas que, sendo útil na maior parte dos casos, tem sempre um custo e que, para lá dum certo ponto, tende para a 'autonomia', caso em que os custos superam a utilidade.

O mandarinato da China imperial foi substituído por uma burocracia 'moderna', e no tempo de Mao, era ele o imperador. Ele próprio confessou que esse vício do passado era muito difícil de erradicar, e 'arrependeu-se', pelo menos em palavras, do 'culto da personalidade' praticado pelo partido sob as suas ordens. Esta burocracia, porém, há-de ser cada vez mais um obstáculo (obstáculo 'irresponsável') ao desenvolvimento do capitalismo chinês.

No outro pólo, o da democracia americana, aquilo que Eisenhower apelidou de 'complexo militar-industrial' encerra igualmente dentro de si um elemento anárquico, um estado dentro do estado que ataca a democracia nos seus alicerces.

O "Nine Eleven" é a esfinge da sociedade americana. Quando alguém a levar a precipitar-se, como fez Édipo, soprará do odre dos ventos uma tempestade nunca vista.


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