Bertrand Russell (1872/1970)
"Agir está bem, por algum tempo: é um tratamento e como uma psicoterapia que reanima um pouco a confiança dando a quem se lhe submete a bela ilusão duma fé ou dum amor fecundo. Mas depois? Viver por viver, não é finalmente absurdo e cruel? O homem bem pode procurar dentro dele ou fora dele, no infinito da ciência ou do universo; está ainda só, e não pode ficar só."
"L'action" (Maurice Blondel)
A bem-aventurança que nos promete Bertrand Russell ("Por que não sou cristão"), apoiada no imparável progresso da ciência e do conhecimento, longe dos terrores do homem primitivo e dos tempos de superstição, não parece hoje menos idealista do que a esperança no Reino dos Céus.
Os limites da ciência estão cada vez mais à vista e mesmo que o seu desenvolvimento fosse ao ponto de eliminar a morte (God forbid!), não nos poderia assegurar a felicidade nem o sentido da vida.
Por isso penso que se iludem os que ligam o sentimento religioso apenas ao medo da morte.
Como se especula no último livro de Saramago, isso traria decerto muitos problemas à Igreja, enquanto dispensadora dos ritos e do protocolo de "passagem".
Mas a vida em função dum conhecimento instrumental e que, quanto ao resto, nos deixa em impenetráveis e perpétuas trevas, não é muito diferente da auto-ilusão ou duma vida pelo prazer de viver (enquanto se pode).
Quando Bertrand Russell nos exorta a procurarmos o nosso paraíso na terra, soa-me estranhamente ao "sino da minha aldeia" e às alegrias paroquiais dum tempo que para sempre pertence ao passado.
O chamado mundo global, se tem um mérito é o de esvaziar de sentido o narcisismo terráqueo e o de nos confrontar com o problema da nossa "orfandade" face ao universo.
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