segunda-feira, 18 de janeiro de 2016

A LIBERDADE

Henri-Dominique Lacordaire (1802/1861)



"(...) entre o forte e o fraco, entre o rico e o pobre, entre o patrão e o escravo, é a liberdade que oprime e a lei que liberta.

(Henri-Dominique Lacordaire)


Esta citação de um dominicano é do ano em que Marx escreveu os seus famosos 'Manuscritos Filosóficos e Económicos', os quais, durante um tempo foram uma fonte, no próprio Marx, contra o marxismo oficial.

Podemos, ainda hoje, acrescentar alguma coisa ao seu conteúdo essencial?

A Liberdade inspirou todos os nossos heróis desde os Gregos. Lendo as páginas de Plutarco que foram uma verdadeira 'vida dos santos', na versão laica, para as elites europeias, ou os historiadores romanos, julgamos compreender tudo o que há a dizer sobre a liberdade. Bruto esteve sempre do lado certo, mesmo quando traiu o seu 'pai' espiritual. A Revolução Francesa inaugurou o princípio da liberdade na lei.

Com origem nessa mudança radical, descobriu-se uma nova teoria da sociedade e o método revolucionário para produzir efeitos semelhantes onde quer que 'estivessem reunidas as condições'. A desgraça é que ninguém possuía a fórmula dessas condições. Foi preciso que os continuadores de Hegel a extraíssem, já em armas, como Atena, da cabeça do 'Idealismo Alemão'.

Chega a parecer incrível a simplicidade dessa 'extracção': tratava-se de colocar a dita fórmula 'sobre os seus pés', como uma criatura normal.

Apesar desse começo nada auspicioso, os novos hegelianos foram certeiros ao identificar na grande Revolução a passagem de mãos do poder de 'jure' para o poder de facto e a nova supremacia burguesa. A Liberdade deixou de servir à aristocracia para oprimir o poder do dinheiro. Solução que estava na ordem das coisas, já que os nobres estavam, em grande parte, falidos.

Hoje sabemos que houve já uma transferência silenciosa, sem revolução, do poder da burguesia industrial e comercial para os 'Grandes': os Grandes Investidores, a Grande Finança, os Grandes Fundos e a Grande Especulação. Quando nos dizem que fazemos parte, através das nossas pensões, desses Grandes Investidores, atingiu-se a perfeição do sistema. 'La boucle est bouclée', como dizem os Franceses.

Voltando ao início, podemos dizer que a Liberdade nunca foi para todos, nem pode ser, nos termos de Lacordaire. Basta a necessidade de uma divisão de tarefas para multiplicarmos as desigualdades e as oportunidades para oprimir até ao infinito. A experiência soviética mostrou que as desigualdades do poder aumentaram exponencialmente, embora a diferença em rublos pudesse não ser tão 'expressiva' como nos países capitalistas, mas há que contar com a riqueza 'em espécie' da 'nomenklatura'.

Outra coisa óbvia é que não é a 'base da pirâmide' que faz as leis. Estas, 'devem' assegurar a 'desigualdade intrínseca' que faz o sistema funcionar.

Por isso, continua a ser verdade que a liberdade livre continua a ser a dos fortes; a outra é a liberdade retórica, em que as sociedades mais felizes acreditam. Quanto à lei, liberta uns e oprime outros, como sempre. Mas o seu primeiro valor é o da segurança do sistema que torna tais leis indispensáveis.

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