domingo, 24 de janeiro de 2016

CEPTICISMO BENEVOLENTE


Sigmund Freud


"A atitude que mais apreciamos neles (os nossos pacientes) é a de um cepticismo benevolente. Tentai, pois, vós também, deixar lentamente amadurecer em vós a concepção psicanalítica, ao lado da concepção popular ou psicológica, até que se apresente a ocasião de uma e outra entrarem numa relação recíproca, medirem-se e associando-se, fazerem nascer finalmente uma concepção decisiva."
"Introduction à la Psychanalyse" (Sigmund Freud)

A palavra-chave é benevolência. Significa que, mesmo se ao princípio estamos um pouco incrédulos, estamos disponíveis para uma mudança de opinião.

É o mesmo crédito que temos de dar a um autor, antes de lermos a sua obra. O aborrecimento e a incompreensão são o preço a pagar pela preguiça ou pela má-vontade. Eis por que é tão raro o autodidata que não pode contar com a 'garantia' académica de que dedica o seu estudo aos 'melhores' e que o seu esforço será, seguramente, recompensado.

Mas temos boas razões para pensar que o sucesso da psicanálise, especialmente entre os Americanos, quando lhes levou, conscientemente, a 'peste', contou menos com qualquer 'cepticismo benevolente' do que com uma cultura urbana, sedenta de novidade e de ideias práticas, que espalharia aos quatro ventos uma teoria 'desmistificadora' e de grande operacionalidade ritual.

Nas palavras da 'Introdução', temos, além disso, o modelo de uma influência respeitadora da liberdade do indivíduo, como convém a uma sociedade democrática, que pode também ser interpretada como astúcia da razão invasora.

Porque corre-se o risco de um cepticismo encenado, meio ganho para a causa. Um compasso de espera em nome de uma certa 'delicadeza'.




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