"O que quero dizer é que, sem experiência, o pensamento pode ser justo, sensato, correcto e até profundo, mas dificilmente será comunicativo, transformador ou renovador;"
(José Mattoso)
O valor da experiência já teve melhores dias. Se a 'prótese' cerebral que representam os computadores e os 'smartphones' estivesse disponível, digamos, na Idade Clássica, não teríamos aquilo a que chamamos Civilização Ocidental. Pela simples razão que não poderíamos lidar com esse passado e com essa tradição. Anteciparíamos em mais de 2000 anos a civilização americana e o seu característico desenraizamento.
A ideia de Mattoso, a ser verdadeira, significaria que nos estamos a tornar cada vez menos 'comunicativos, transformadores ou renovadores', isto numa época em que parece que nunca fomos tanto essas coisas. O paradoxo só se resolveria se aceitássemos que a comunicação do tempo presente não é uma verdadeira comunicação, porque não comunicamos experiência, a experiência individual, pelo menos.
Talvez estejamos a participar na metamorfose da ideia de indivíduo que esteve na base da nossa filosofia de vida e da nossa sociologia. O indivíduo em rede não tem profundidade, vive numa única dimensão do tempo. É um neurónio de um novo tipo. Tem muito para ligar e muito pouco de um abismo pessoal.
Nem toda a experiência é transmissível, mas as 'antenas' podem tocar-se.
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