"Segundo ela (a noção egípcia de justiça), o ideal do bom juiz seria "fazer com que as duas partes saiam do tribunal satisfeitas".
(José Mattoso)
Este ideal pertence, justamente, ao Céu. Porque esse é o lugar onde todas as contradições se resolvem. As duas partes encontrarão um juiz 'compreensivo', ao ponto de não discriminar entre inocentes e culpados, levando a ideia da igualdade à sua plena consumação. Seria assim que um pai 'não-severo' julgaria uma querela entre os seus filhos, contextualizando sempre e dando à sorte imprevisível a sua parte.
Por que é que isto faz todo o sentido? Aqui parece que abdicámos de qualquer pedagogia ou de exemplaridade moral, como se o objecto da narração não pudesse 'mudar a sua vida', ou de algum modo corrigir-se. Como se falássemos do mundo dos Mortos.
O ideal do bom juiz só poderia influenciar a prática do tribunal e as suas decisões como um pensamento de segundo grau, que deveria estar sempre presente nos actos da justiça. Há uma certa semelhança entre este 'sub-texto' de uma justiça impraticável, sem deixar de ser 'produtiva', com o costume romano de lembrar os que alcançavam o poder de que eram simples mortais. "Memento mori."
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