quarta-feira, 20 de janeiro de 2016

O ELOGIO DA LOUCURA

Claude Lévi-Strauss


"Nenhum psicólogo comportamentalista que observasse as pequenas aldeias isoladas no Interior do Brasil declararia decididamente que os seus habitantes 'desenvolvem diferentes formas de loucura' a fim de enfrentarem a chuva, as carências alimentares e a desolação."

(Lévi-Strauss, citado por George Steiner)

Segundo este pensamento, a razão tem a capacidade de se 'retrair' para dar lugar a uma estratégia de sobrevivência mais eficaz do que ela, chamemos-lhe instinto ou outra coisa qualquer. O poder racional surge a esta luz como um luxo da sua evolução que o 'animal racional' nem sempre se pode permitir.

Estamos familiarizados, de resto, com esse retraimento perante a dor ou uma grande perda afectiva. Esses 'loucos', de algum modo, não consideram a sua racionalidade à altura do problema existencial que enfrentam.

Este comportamento tem um certo paralelismo com o fenómeno da hibernação que pertence ao domínio da 'economia da força vital' num ambiente demasiado hostil. Quem perde a razão para poder continuar a viver experimenta uma 'hibernação' de outro tipo, quase sempre irrecuperável para o sentimento da realidade.

É assim que algumas teorias, como a do 'crescimento zero' dos anos setenta, exprimem a necessidade de suster uma corrida desenfreada para o Caos, nem que seja por um inverno.

Stephen Hawkings, ao alertar, recentemente, para o lado destruidor da ciência e da tecnologia que a 'razão ocidental' é, por ela própria, incapaz de criticar porque se trata dos seus filhos mais queridos, não faz mais do que repetir o que a antropologia vem dizendo.


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