Charles Péguy (1873/1914)
"(...) E um problema, do qual não se via o fim, um problema sem saída, um problema ao qual toda a gente estava aferrada, de repente já não existe e perguntamo-nos do que se falava. É que, em vez de receber uma solução ordinária, solução que se encontra, este problema, esta dificuldade, esta impossibilidade acaba de passar por um ponto de resolução, por assim dizer físico. Por um ponto de crise. É que, ao mesmo tempo, o mundo inteiro passou por um ponto de crise, por assim dizer, físico. Há pontos críticos do acontecimento, como há pontos críticos de temperatura, pontos de fusão, de congelamento; de ebulição, de condensação; de coagulação; de cristalização. Nos acontecimentos, encontram-se até mesmo estes estados de superfusão que não se precipitam, que não se cristalizam, que não se dominam a não ser pela introdução de um fragmento do acontecimento futuro."
"Clio" (Charles Péguy, citado por Gilles Deleuze)
É como quando se diz que o tempo resolve, e sem que se tenha procurado uma solução, o problema deixou de existir. Se somos demasiado velhos, e por maioria de razão se já morremos, já nada é como era. O mundo muda connosco, e ao mudar (e " não muda já como soía"), muda o sentido das nossas acções.
O "ponto de crise físico" foi atingido, talvez com o nosso concurso inconsciente, e o problema está já para trás, quando ocorre a imponderável antecipação do futuro.
Uma teoria revolucionária pode ser o fragmento de que fala Péguy, mesmo quando é um erro futuro, porque esta ideia já faz parte duma visão do mundo em que o problema deixou de se pôr, ou foi formulado de outro modo.
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