"Vem comigo, vem, minha querida, partamos daqui! Nós plantaremos um novo jardim, mais belo do que este, tu verás, tu compreenderás, e a alegria, uma alegria calma e profunda descerá sobre o teu coração, como o sol no fim da tarde, e tu sorrirás, mamã! Vem, minha querida! Vem..."
(Ania no "Cerejal" de Anton Tchekov)
Lopakhine, o filho do mujique, não se cansa de o lembrar: a venda do Cerejal, por dívidas, está marcada para vinte e dois de Agosto, mas ninguém o escuta, ninguém quer sair do seu sonho de infância.
Os proprietários são como o velho criado, Firs, para quem a grande desgraça foi a libertação dos servos. Quando todos abandonam a casa, julgando-o no hospital para acabar os seus dias, ele é a última personagem em cena, preocupado ainda com o agasalho que o seu patrão se esqueceu de levar, enquanto se ouvem os primeiros golpes de machado.
A juventude recusa-se a morrer com o cerejal. Nas suas palavras, a esperança parece brilhar através das intermitências do suave pessimismo de Tchekov.
Ania será talvez uma futura "Gaivota" e Pétia, o eterno estudante, é já a imagem do fracasso.
A fatalidade que pesa sobre todos estes seres prepara-se, com a Revolução, para mudar de ombro.
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