quinta-feira, 17 de setembro de 2015

NOMEAR E CLASSIFICAR

Giotto



"(a observação de Lévi-Strauss fazendo valer que uma sociedade não pode proibir o que não pode nomear e classificar, e que o reconhecimento do que é permitido ou proibido na ordem do parentesco depende da medida em que correspondem a uma designação linguística precisa, é evidentemente profunda e válida.)"
George Steiner

O livro IV da Bíblia, intitulado "Números", começa e acaba com um censo militar. Esta contagem é o princípio da organização e da separação em relação às outras tribos e aos seus deuses. Mais tarde, na história do Cristianismo, o episódio da 'Matança dos Inocentes' revela-nos a importância para o poder de dispor de todos os nomes numa qualquer classificação. Na falta desse controlo, a proibição pode virar-se contra a própria existência da sociedade. A 'Matança' foi uma ordem absurda e completamente fora de proporção.

Um Estado moderno como o do partido nazi dispunha, pelo contrário, da informação precisa e estava organizado de tal modo para que não fosse necessário matar indiscriminadamente. Foi, contudo, esse o sentimento das testemunhas depois da 'Solução Final'. A vida de um homem, depois de atingidos os judeus, passara a valer menos do que o dinheiro nos últimos tempos da República de Weimar.

Os tabus e os interditos estudados pela etnologia correspondem a estruturas necessárias à organização que a espécie desenvolveu sem ter disso consciência. A tecnologia digital que a quase todos fascina nos nossos dias oferece, à primeira vista, perspectivas de futuro que nem somos capazes de explorar. Mas o que no fim se revelará mais importante será o que, sem o sabermos, nem pressentirmos, estamos a fazer de nós e do nosso mundo.


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