sexta-feira, 4 de setembro de 2015

LEALDADE


G.K.Chesterton


"O mal do pessimista é, então, não que castigue deuses e homens, mas que não ame o que ele castiga - falta-lhe esta primária e sobrenatural lealdade às coisas."

"Orthodoxy" (G.K.Chesterton)

Não é comum falar em lealdade a propósito de um tema filosófico. A palavra quase já deixou de ser usada na vida prática e parece cada vez mais antiquada no exército, onde já esteve em vigor  uma hierarquia profana que se queria aparentada à fidelidade canina. Estará ainda em uso em certas amizades... Porque se preza uma espécie de liberdade abstracta no indivíduo que faz tábua rasa de coisas emaranhadas e confusas como raizes e lianas, o húmus dos afectos.

Chesterton diz, por outras palavras, que o pessimista se 'desafectou' do que, no fundo, é a sua vida. Pode ter razões mais do que fundamentadas para criticar certos homens e as suas acções, mas ele deixa-se contaminar por esse espírito negativo e espalha o veneno à sua volta. Põe-se na posição de exilado que não deve contas a nada nem a ninguém, julgando-se o princípio de si mesmo e lança a sua 'fatwa' sobre tudo em volta.

A lealdade era devida, no feudalismo, pelo cavaleiro ao seu senhor, e esse tempo passou. Mas, como dizia Simone Weil, há uma espécie de hierarquia que é uma das necessidades da alma e que corresponde também a uma obrigação (mas podíamos chamar-lhe lealdade) perante um princípio superior, perante a Origem (que não é, obviamente, um lugar, nem uma pessoa).

Mas a nossa ilusão mais querida é a de que fazemos tudo o que é possível para escapar ao antropocentrismo, como único princípio.

O pessimista é apenas o mais iludido de todos.



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