quarta-feira, 23 de setembro de 2015

DOIDOS E VILÕES





"Ora digo que o poder ainda é peior em mãos de vilões – que as armas nas mãos dos doudos."

(D. Francisco Manuel de Melo, in "A Visita das Fontes")

Este pensamento é benévolo em relação ao poder, pelo menos de acordo com Lord Acton. Porque supõe que os homens honestos não são modificados por ele.

E bastava isto: todos cometemos erros que afectam, algumas vezes, a nossa vida e a dos mais próximos. Normalmente, pagamos por eles, de uma maneira ou de outra.

As consequências dos erros do poder, mesmo do mais bem intencionado, estendem-se a toda a sociedade e grande parte das vezes os responsáveis não lhes sentem os efeitos, tendo que imaginá-los, se estiverem de boa fé. Precisavam de 'olheiros' em todos os cantos e esquinas. Estão protegidos pela nuvem da ignorância. É impossível que esta situação não aprofunde a distância entre essa imagem, quase sempre lisonjeira, e a realidade.

É então que os homens honestos se esquecem do que uma vez foram. Não há critério para julgar da honestidade de alguém que, no fundo, só presta contas a si próprio e ao grupo que o cerca. Depressa o bem se confunde com a necessidade que é, simplesmente, a lógica do poder.

A democracia e o seu equilíbrio de poderes, o sistema de voto e a limitação dos mandatos não impedem  a corrupção e a vilanagem, e temos de reconhecer, com Churchill, que é o "pior dos sistemas, à excepção de..." Os seus enormes defeitos estão aí para quem os queira ver, mesmo nas democracias 'exemplares', como a da Grã-Bretanha ou a dos EUA.

Concluo que o poder é uma máquina de fazer vilões, e é por isso que tem de ser contido pelas leis. O pessimismo que daqui resulta é saudável. Mas não nos protege de um sistema sem rosto que julga saber melhor do que nós aquilo que nos convém. Há sempre um ponto em que é preciso desligar o Hal que tem uma missão a cumprir.



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