quarta-feira, 2 de setembro de 2015

STRELNIKOV


Strelnikov (Tom Courtney)

Segundo Habermas, a consciência vanguardista corresponde "à nostalgia de um presente imaculado, suspenso."

Como devemos interpretar esta dor (algos) aplicada à arte e à política? Não poderíamos dizer que o próprio conceito de revolução moderno remete para uma essa nostalgia?

O termo usado por Habermas de 'imaculado' temos de o ler num sentido religioso, como o do estado antes da Queda, antes do Pecado, antes da 'folha de parra' e da 'expulsão do Paraíso'. E esse presente suspenso não é outra coisa do que a Parusia encoberta.

A vanguarda na pintura, por exemplo, que a levou ao impasse do sentido (de novo, o filósofo de Düsseldorf): "Esta perspectiva floresceu com a modernidade estética, com essa tenaz desocultação forçada ao extremo na arte vanguardista de uma subjectividade descentrada liberta de todas as limitações da cognição e da actividade orientada para fins, de todos os imperativos do trabalho e da utilidade." seria, assim, uma tentativa de 'queimar etapas' e apressar um 'regresso de Cristo à terra' de outro tipo.

E, tal como desde o século XVIII, se viu no fenómeno da nostalgia entre os soldados, uma espécie de epidemia, um novo objecto da medicina, uma curiosa analogia se pode estabelecer com outra classe de nostálgicos do 'presente suspenso' que ficaram para a história como 'os revolucionários'. Como o Strelnikov do "Doutor Jivago", interpretado por Tom Courtenay, a sua paixão tem mais a ver com a pureza do que com a justiça.

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