segunda-feira, 28 de setembro de 2015

REFORMA E REVOLUÇÃO

Samuel Huntington


"O revolucionário tem de ser capaz de dicotomizar forças sociais, o reformista, de as manipular. O reformista, consequentemente, precisa de uma ordem muito mais alta de habilidade política do que o revolucionário."

"Political Order in Changing Societies" ( Samuel Huntington)

Isso, porém, não define o marxista que não advoga apenas um método (a luta de classes) que instala o conflito de interesses no âmago das relações sociais, o que opõe esta doutrina a qualquer contrato social 'in Terris'.

Ao método, e em termos religiosos, mais importante do que ele, alia-se uma promessa de justiça que foi capaz de galvanizar sucessivas gerações até que a experiência do poder absoluto por parte dos doutrinários levou estes à completa desfiguração da Promessa.

Por outro lado, o reformista não pode 'manipular' forças sociais que não controla. No melhor, limita-se à pequena engenharia social, cujos efeitos, em princípio, seriam limitados e passíveis de correcção pelo simples exercício do voto.

Houve um tempo em que a distinção entre as duas ideias parecia ser uma questão de velocidade na 'transformação do mundo'. Um certo gradualismo era já traição aos olhos de quem via o fundo do túnel tão próximo e tão dependente da coragem e da firmeza dos princípios que adiar a Revolução era ser inimigo da humanidade e trair todos os princípios éticos.

Não há dúvida que manipular o ódio de classe com vista à 'dicotomização' doutrinária' é a via mais fácil, porque segue a linha do instinto reptiliano. Mas a maioria dos revolucionários perde esse 'estado de desgraça' quando 'cresce' ou pode pensar pela sua cabeça.

A habilidade do reformista, por outro lado, seria melhor chamada de prudência, porque a 'engenharia social' não é um campo do saber, como não o é o mero tecnicismo. Mas é também verdade que as grandes mudanças sociais nem sempre requerem as virtudes políticas correspondentes. De tal modo, que mais do que sabermos para onde vamos ou para onde queremos ir, continuamos a 'sofrer' as consequências dos nossos actos, como se tudo estivesse entregue ao acaso.

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