"Se o fragmento 133 de Píndaro ilustra bem o orfismo, então a alma daquele que dorme, vela; e a alma daquele que vela, dorme."
(Paul Ricoeur)
O fragmento citado diz: "Mas, quanto àqueles de quem Perséfona reclama a pena do seu antigo mal, no nono ano, mais uma vez ela restaurará as suas almas na superior luz do sol; e destes nascerão augustos monarcas, e homens ágeis em força e em sabedoria; e, por todo o tempo futuro, os homens lhes chamarão heróis sagrados."
Como a deusa, no seu forte simbolismo agrário, que teve de passar toda uma estação no mundo subterrâneo, antes de voltar a ver a luz do sol, depois da morte, a alma será julgada no Hades e deverá cumprir o ciclo das reencarnações, até ser libertada por Perséfona.
O período em que, segundo o orfismo, a alma permanece prisioneira do corpo, é um tempo de vigília sustentada pelo desejo da libertação. Porque quando, enfim, a alma deixa de errar pelo mundo e pode habitar as 'Ilhas dos Abençoados' ('Theoi Project'), supõe-se que também se libertou do desejo e por isso dorme.
É assim que acaba a trilogia de Dante: como um relógio mecânico de infinita contemplação.
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