segunda-feira, 17 de março de 2014

OSAGE COUNTY

A paisagem é a da planície em que habitualmente se desenrola o drama faulkneriano, onde se mistura a poeira e o calor que tudo confundem e as histórias de incesto caladas até à morte, mas consabidas.

"August: Osage County" (John Wells) nasce desta conjuntura. Podia ser uma peça de teatro num espaço confinado em que a família dispersa se reúne por altura em que o patriarca (Sam Sheppard), depois de contratar uma 'americana nativa' para cuidar da mulher, Violet (uma superlativa Meryl Streep) que tem um cancro, se despede da vida e do remorso impenitente, deixando-se afogar (são tantos os suicídios e os crimes de lago que parecem todos ter lugar nas mesmas águas, as de "Aurora" de Murnau.)

Todas as filhas de Violet sofrem da maldição das planícies desoladas. Não são apenas falhanços, como o dos outros compatriotas vivendo em cidades trepidantes e em lugares bafejados pela sorte. Ivy (Lilianne Nicholson) que ficou com a mãe, ama o primo Little Charles (Benedict Cumberbatch num papel de criança grande, nos antípodas do brilhante Sherlock Holmes da BBC) que Violet e a mãe dele sabem ser de facto irmão. Na hora do abandono geral, e em face da revelação, Ivy gritará um desesperado:"-it makes no difference!" (que é o contraponto, no registo dramático, do final de "Quanto mais quente, melhor": "-Nobody is perfect", em que Jack Lemon grita para o seu apaixonado milionário que é um homem).

Violet fica sozinha com o seu cancro na boca que parece o 'castigo divino' de uma verve cínica imparável. E dir-se-ia uma solução justa porque ela acaba de confessar que é de todas a mais resiliente. Ainda assim, quando se dá conta da sua solidão, que todas as aves visitadoras voaram para longe da terra pestiferada, refugia-se nos braços da sua índia Cherokee.

 

0 comentários: